20ª Estância da Canção Gaúcha – São Gabriel – RS – 2013.
VENDE-SE UMA CARRETA NO RINCÃO DA VISTA ALEGRE
Letra: Diego Müller e Rodrigo Bauer
Música: Edilberto Bérgamo
Intérprete: Edilberto Bérgamo
Corre solto nos bolichos que uma carreta está à venda,
Que um índio da Vista Alegre anda de rumo cambiado…
Quem carreteou a esperança e a vida por encomenda
Vende um pedaço da alma num jornal classificado!
É como vender a história, a vocação, o atavismo…
E renascer mutilado de tudo o que já se foi…
Há muito ficou na poeira, com os ventos do modernismo…
E vê o asfalto comendo os cascos dos velhos bois!
“São Gabriel das carretas!” – Ficou o nome e o legado:
Não há rodados na estrada, nem bois cortando a distância…
Os gemidos das carretas se perderam, junto à poeira,
E o velho grito de “eira” apenas deixou lembrança!
Quem nasceu na Vista Alegre não teme tempo ou desgosto:
Há de encontrar outro ofício pra continuar a contenda…
Mas não esconde que o pranto desceu nas vergas do rosto,
Naquele dia encardido em que pôs a carreta à venda!
De seu rancho sem reboco, à luz de velhas lembranças,
Um carreteiro olha à estrada, feito um pássaro sem asas…
– As buzinas já não gemem… hoje lhe resta a esperança…
…E uma carreta ancorada, pra sempre, em frente das casas!
O que reserva o futuro pra quem viveu carreteando,
Fazendo frete e quitanda, com chuvaradas e estios?…
– Ouve o ranger do silêncio, que segue lhe apunhalando…
E enxerga a carreta encher-se, cada vez mais… de vazio!!!